Antonio Manuel Lima Dias (Campina Grande,
Paraíba, 1944 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018). Artista visual e
multimídia. É um dos representantes da geração de artistas brasileiros que, na
década de 1960, rompe com a pintura modernista figurativa e nacionalista para
produzir uma nova estética inspirada na cultura de massa. Levando os conceitos
de experimentação e liberdade ao limite, a obra de Antonio Dias desafia as
categorias artísticas tradicionais ao explorar técnicas, materiais e conceitos
que resultam em uma produção dinâmica e diversificada.
Inicia a carreira como desenhista e
artista gráfico em 1958, quando se muda para o Rio de Janeiro. Nessa época,
frequenta aulas do gravador e ilustrador Oswaldo Goeldi (1895-1961) no Atelier Livre de Gravura da Escola Nacional de Belas Artes (Enba), e conhece artistas do Grupo Frente, que influenciam em sua trajetória. Inicia sua
pesquisa estética nos anos 1960, quando explora novos meios e suportes.
Conjugando abstração construtiva e figuração, seus quadros negam a
homogeneidade por meio de texturas, relevos e rupturas. Participa da mostra Opinião 65, marco do surgimento do novo
realismo nas artes.
Nesse contexto, produz uma de suas
obras mais importantes: Nota sobre a
Morte Imprevista (1965), na qual apresenta uma nova abordagem
do problema do objeto, sem deixar de tocar em questões sociais em meio às
formais. Um “antiquadro”, passagem decisiva para o conceito de nova
objetividade, formulado por Hélio Oiticica (1937-1980)1, a obra assume o formato de
losango, rompendo com a disposição tradicional de um quadro. Seus elementos
constituintes são excreções que transbordam sobre o ambiente, com formas
distantes da rigidez habitual de um quadro. Como em um jogo, ela provoca o observador
a remontá-la: as imagens, com uma estética pop, oferecem um significado
enigmático, e os objetos, que poderiam oferecer-se ao toque, são fontes de
desconforto. O espaço fragmentado remete às histórias em quadrinhos, sem, no
entanto, almejar completude narrativa.
Depois de participar da 4ª Bienal
de Paris, também em 1965, Antonio Dias recebe uma bolsa de estudos do governo
francês e inicia um período de autoexílio em diversos países da Europa, o que
coincide com uma transformação em suas obras. Diferentemente da produção
anterior, marcada pela estética da pop art e pelo engajamento político, suas obras passam a
ter um caráter minimalista, incorporando poucas imagens e algumas palavras,
como na tela Anywhere Is My Land (1968).
Nela, o artista sobrepõe a organização rígida de uma grade quadriculada à
imensidão aparentemente desorganizada da galáxia, sugerindo que qualquer lugar (anywhere) pode ser sua terra (my land).
Tomado por essa questão do lugar,
produz a obra Faça Você Mesmo: Território
Liberdade (1968), um ambiente apenas estruturalmente esboçado,
que sugere um espaço para a ação. Trata-se de uma construção gráfica ambiental,
com sinais de demarcação territorial feitos com fitas adesivas sobre o chão.
Desdobrando a proposta, o artista insere três pedras de bronze com a inscrição
“To the police”. A completude da obra só é atingida por meio da ação do
espectador, o que, para Dias, revela a lacuna física e semântica inerente a
toda comunicação.
Continua a incorporar a escrita
como elemento gráfico e semântico, intensificando as relações entre artes
visuais, poesia e cinema, como na série The Illustration
of Art (1971-1974). O título transita entre o pejorativo
“ilustrativo” e o erudito “ilustrado”, ambos os sentidos em chave irônica.
Nessa série, imagens e sequências interrompidas de formas modulares são
ordenadas pela lógica sugerida pelo artista, propondo campos de jogos e
camuflagens que se fingem imagens espaciais. The Illustration
of Art / One & Three / Stretchers / Models (1971)
exemplifica a operação formal e lógica que permeia os trabalhos da série,
estimulando o observador à ação, ainda que esta seja apenas o gesto virtual de
completar as possibilidades de acomodação das formas. A série é iniciada em
Milão e editada em Nova York, depois de o artista receber, em 1972, a bolsa
Guggenheim.
Em sua constante experimentação
artística, Dias passa a investigar novas formas de produzir suas obras. Em
1977, viaja ao Nepal e pesquisa técnicas de produção de papel, que resulta em
uma série de trabalhos de grande formato e na publicação do álbum Trama (1977). O álbum é composto
de 11 xilogravuras impressas em papel nepalês, produzido por
artesãos locais. Em 1980, participa da 39ª Bienal de Veneza e, em 1981, da 16ª
Bienal de São Paulo, que marca o fim do boicote à Bienal e a abertura política
no Brasil.
Em 1992, torna-se professor da
International Summer Academy of Fine Arts, em Salzburgo, Áustria. No ano
seguinte, leciona na State Academy of Fine Arts, em Karlsruhe, Alemanha, e, em
1997, no programa de pós-graduação dos Ateliers Arnhem, na Holanda. Em 2010,
transfere-se para o Rio de Janeiro, onde prossegue com intensa produção.
Dedica-se à pintura, priorizando texturas, em vez de pinceladas, bem como
planos de diferentes cores e tamanhos, deixando de lado a figuração de suas
obras iniciais.
Antonio Dias, com sua constante
inquietação artística, produz um acervo plural, que não só conta a história da
arte de um Brasil recém-modernizado, como também faz parte de sua construção.
Ao questionar tradições e promover rupturas, revela novas formas de pensar a
arte e se eterniza como um dos grandes pintores brasileiros do século XX.