A gravação de imagens em suportes como a pedra ou a madeira, para depois serem utilizados como matrizes de impressão sobre papel ou tecido, já era empregada pelos egípcios e conhecida pelos chineses desde o século II. Sua “redescoberta” se deu na Europa em meados do século XV, quando o uso da xilogravura cumpriu o papel de grande veículo propagador de imagens e textos.
O papel da xilo nesse período como difusora da imagem impressa e reprodução seriada, proporcionou aos artistas e pensadores da época uma importante ferramenta no desenvolvimento das ciências, das idéias e das letras que começavam a circular naquele momento que foi um dos mais ricos períodos da humanidade Essas imagens, entalhadas em placas de madeira, denominadas matrizes, eram geralmente feitas de mogno, nogueira e outras cepas macias que permitiam uma maior facilidade de manejo.
A partir do século XV, a arte da gravura se impõe: além de já ser amplamente utilizada na divulgação de imagens religiosas e na impressão de cartas de baralho, vai substituir o manuscrito e a iluminura, privilégio da nobreza e do clero, criando novas possibilidades de divulgação e democratização do conhecimento. A gravura, por séculos, não apresentou limitações de edição senão aquela imposta pela resistência da própria matriz.
O alemão Albert Dürer (1471-1528) é considerado o maior artista gráfico do Renascimento. Dürer contribui, no inicio do século XVI, para uma mudança de qualidade na produção de gravuras realizando inclusive experiências com a técnica da água-forte. No século XVI é criada a gravura em metal, uma forma de impressão mais apurada e que incorporou as técnicas de ouriversaria produzindo uma melhor definição de qualidade na imagem e também uma maior durabilidade da matriz no processo de grandes tiragens por ser a chapa em metal bem mais resistente ao processo de impressão.
Apesar de não serem tão numerosos, os gravadores florentinos já realizam belíssimos trabalhos em talho doce no fim do século. No século XVI há a consolidação da gravura em metal como forma de expressão em toda a Europa. A xilogravura entra em declínio e a gravura em metal é intensamente utilizada, dado que possibilita uma edição maior e melhor qualidade de traço.
Na Itália, Marco Antonio Raimondi, com sua gravura de reprodução, documenta as grandes obras de pintores e desenhistas. É a partir do trabalho de Raimondi que se tem definido o que se chamou “gravura de reprodução ou documentação”. Na gravura de reprodução, o artista-artesão grava e documenta imagens que não são de sua própria criação: enquanto a chamada “gravura original” é, em si mesma, uma forma de expressão do artista.
Já no fim do século XVI encontramos a gravura de reprodução documentando o descobrimento do Novo Mundo; temos também as primeiras gravuras registrando estudos científicos de anatomia, botânica, zoologia, etc. As técnicas de gravura em metal já conhecidas chegam ao auge da perfeição e da maturidade no decorrer do século XVII. Meio de fácil reprodução e difusão, a par do interesse estético que ela oferece, possui também valor de documentação e registro da cultura da época.
O holandês Rembrandt Harmensz Van Rijin (1606-1669) produziu gravuras importantes retratando não só o seu tempo, como imagens bíblicas, retratos e paisagens. O francês Jacques Callot (1592-1635) produz uma obra original onde a sociedade da época é representada por figuras grotescas. Suas gravuras em metal mostrando as obras do Grão Duque Ferdinando I, de Médici, revelam todo seu talento como gravador.
O veneziano Giovanni Battista Piranesi (1728-1778) se destaca pelas suas ruínas da antiguidade e pela grandeza das suas cidades. O gênio espanhol Francisco de Goya (1746-1828) presenteou o mundo com sua série Los Caprichos, uma coleção de 80 gravuras que representa uma sátira da sociedade espanhola de finais do século XVIII, sobretudo da nobreza e do clero.
O século XIX traz não só grandes transformações sociais e de modificações significativas no campo tecnológico como também é um novo momento em relação às possibilidades de comunicação e circulação de idéias. No campo das artes, o público é cada vez maior, consumindo rapidamente a produção que conta com recursos crescentes. Destaca-se nesse período o francês Honoré Daumier (1808-1879), um dos maiores artistas litógrafos que usaram e abusaram da imprensa como o melhor canal de divulgação de sua obra humorística e satírica. Também o francês Gustave Doré (1832-1883) foi um dos mais destacados desenhistas e suas gravuras retratando O inferno e O purgatório, descritas na Divina Comédia de Dante, são consideradas obras primas da ilustração.
O aparecimento da fotografia e, no final do século, a invenção de processos fotomecânicos de impressão levam a produção artesanal paulatinamente ao declínio. O clima de transformações do século XIX propicia grandes mudanças no campo das artes que determinarão também os princípios da gravura contemporânea.
Fontes:
ANDRIOLE, Mauro. Gravura: conceito, história e técnicas. Texto publicado no site www.casadacultura.org.
GRILO, Rubem. Texto de apresentação do Catálogo da Mostra Rio Gravura. Rio de Janeiro, 1999.